Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro

O impacto do comércio no PIB: a resposta está na Selic e no consumo das famílias

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Por Antonio Florencio de Queiroz Junior, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ)

Os números positivos do PIB de 2023, divulgados no início deste mês pelo IBGE, com crescimento econômico de 2,9%, trazem alguns dados relevantes que ajudam a compreender como pode ser o desempenho do comércio no curto e médio prazo.

Olhando apenas a superfície, os dados do PIB mostram o comércio perto da estagnação: crescimento de 0,6%, abaixo do setor de serviços como um todo (2,4%). Na comparação com o trimestre anterior, um dado ainda mais preocupante: queda de 0,8%. Números assim sempre ativam um alerta. Mas há outros elementos que podem ser extraídos do PIB que, pelo contrário, nos animam bastante já para este ano.

Uma informação central que o IBGE nos dá é que, hoje, o principal gargalo para o crescimento do comércio é o consumo das famílias. A participação do comércio nas despesas familiares é a menor desde 2006. O comércio respondeu por 16,5% (R$ 1,135 trilhão, em valores correntes) desse consumo no ano passado, longe de momentos, como em 2013, quando essa proporção chegou a passar de 19%.

É mais um alerta, claro. O ponto positivo, contudo, é que esses mesmos dados mostram que há uma avenida para crescimento. Afinal, embora a participação do comércio tenha diminuído, o consumo das famílias, na realidade, aumentou. A alta foi de 3,1% em 2023 na comparação com 2022. O que acontece é que o dinheiro das famílias, no ano passado, foi mais destinado a atividades financeiras e “outras atividades de serviços”, fatores que cresceram no mesmo período em que o comércio retraiu como proporção do consumo das famílias.

Mas há números que mostram, sim, que o desempenho do comércio em 2023 tem sinais de melhora. O maior exemplo foi no terceiro trimestre, quando o volume do comércio registrado foi o maior para qualquer trimestre desde 2014.

Há também sinais macroeconômicos que reforçam nosso otimismo. O mercado concorda que a tendência é de continuidade da queda na taxa básica de juros, chegando a menos de dois dígitos no final do ano. Esse movimento impulsiona o acesso a crédito, o que, por sua vez, ajuda a puxar para cima o consumo de serviços – entre eles, o comércio. Combinado a isso temos também a tendência de desaceleração da inflação, o que encoraja uma política monetária menos restritiva.

No Rio de Janeiro, esse cenário pode ser ainda melhor. Medidas recentes como a implementação do “tax free”, que deve impulsionar as compras por parte de turistas estrangeiros, já ajudam nesse sentido. Um dado recente também indica um acúmulo de força econômica pelo nosso estado, que geralmente se reflete na atividade comercial: o Rio registrou um superávit na balança comercial de quase US$ 21 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro melhor resultado entre todas as 27 unidades da Federação e o melhor desempenho das exportações do Estado na série histórica.

A análise deve considerar, também, uma projeção feita pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com indicação de queda no PIB do agronegócio no país em 2024, motivado por queda no preço internacional das commodities. Como o agro vem sendo o alicerce da alta do PIB (crescimento de 15,1% em 2023), tudo indica que esse papel de âncora de uma nova alta da economia será o setor de serviços.

O que cabe à Fecomércio RJ e ao setor produtivo nessa equação é ajudar a preparar as empresas a surfar da maneira mais eficiente possível essa onda que se forma. Uma de nossas preocupações centrais, nos últimos anos, têm sido a de qualificar o setor. E é isso que vamos seguir levando à frente neste ano. Isso vale tanto para treinamento e capacitação dos trabalhadores, mas também para o incentivo e uso de tecnologias em favor das empresas e dos consumidores. A palavra-chave é produtividade e essa é uma prioridade para a Fecomércio RJ, uma vez que temos plena certeza que esse é o caminho para as empresas conseguirem avançar no atual contexto.  

Também nos cabe sempre olhar as dinâmicas do cenário nacional e fluminense, de forma a ler o quadro da maneira mais completa possível, sem cair em um pessimismo cuja único efeito prático é reduzir a confiança de quem faz a economia girar. O consumo das famílias está em alta, os juros estão caindo, a inflação está sob controle e isso é exatamente a formação da onda que o comércio espera há anos.

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