Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro

Os impactos da Selic na economia real: é preciso manter o impulso do varejo

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Por Antonio Florencio de Queiroz Junior, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ)

Foto: Institucional

O ano não poderia ter começado de maneira melhor para os comerciantes e toda a cadeia envolvida com a atividade do setor, que impacta diretamente na economia real do país. Contrariando previsões mais pessimistas de analistas econômicos, que indicavam queda nos números do varejo, as edições referentes a janeiro e fevereiro da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, mostraram que o varejo cresceu – e com força.

Em janeiro, o crescimento comparado com dezembro foi de 2,8%. Naquele momento, os analistas chegaram a apostar em uma queda de 0,5%. Em fevereiro, nova surpresa: em vez de um recuo de 1% em relação a janeiro, como previsto, o que vimos foi uma nova alta (1%). A notícia é ainda melhor porque, desde o segundo semestre de 2022, o varejo nacional não apresentava dois meses seguidos de alta (os percentuais eram, no entanto, menores: 0,5% e 0,7%).

Outro elemento que aumenta ainda mais nossa confiança de que esse movimento não representa apenas um fôlego passageiro é que a alta acontece justamente em um período posterior ao momento de maior aposta do varejo no geral, que são as festas de fim de ano. O resultado de janeiro já indicava isso, mas a alta repetida em fevereiro, em linha com a surpresa dos analistas, indica que estamos diante de um fenômeno que vem ganhando força. 

Nossa equipe técnica, desde março, identificava os sinais desse crescimento a partir da nossa experiência no Rio de Janeiro, que é, naturalmente, um dos motores principais desse salto no varejo. Entre esses fatores locais para o otimismo estava a projeção dos possíveis ganhos do programa tax free, voltado a turistas estrangeiros, e um forte superávit da nossa balança comercial.

Nacionalmente, o crescimento de 2,9% do PIB em 2023 vinha acompanhado de dados indicando uma quase estagnação do comércio (crescimento de 0,6%, abaixo dos 2,4% registrados pelo setor de serviços como um todo), o que obviamente serve de alerta. O consumo das famílias associado ao comércio estava em um nível muito baixo, proporcionalmente. Ali era possível observar que havia uma grande margem para crescimento, ainda mais considerando a trajetória descendente dos juros, que estava apenas começando.

É justamente por isso que esse ânimo registrado nos primeiros meses de 2024 não pode nos cegar para a realidade do momento e para como ela pode impactar os resultados daqui para a frente. O país vem experimentando uma queda consistente na taxa básica de juros (Selic) – isso não é mera coincidência com os bons números do comércio. Essa queda era, aliás, uma de nossas mais fortes recomendações como chave para destravar a alta do varejo. Mas essa tendência agora pode estar ameaçada.

Até semanas atrás, a perspectiva era inteiramente favorável a um crescimento sustentado do comércio. Mas o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já alertou: se o cenário de incerteza das últimas semanas permanecer (ou seja, as dúvidas em relação às metas fiscais pelo governo federal e o desenvolvimento dos conflitos no cenário internacional), o ritmo de cortes na Selic poderá ser freado. As metas fiscais e o mercado internacional, claro, são pontos relevantes, mas não são os únicos requisitos para a definição da taxa de juros. Há dados objetivos que indicam, sim, uma margem concreta para reduzir a Selic, como a inflação efetivamente apurada e diversos grupos do índice IPCA com sinais de queda.

A preocupação com a inflação também está na lista de fatores a serem considerados para a política monetária. Um dado como esse, de alta sustentada no varejo – logo, no consumo – pode arrepiar quem considera que a onda de compras deve ser mantida na rédea com taxa de juros maior.

Nosso apelo, então, é para que o país não perca esse impulso do varejo depois de um longo período de estagnação. Não podemos criar atrito contra esse movimento promissor que o comércio vem demonstrando, pelo bem dos milhões de empregos gerados pelo setor.

Esses números mostram, na prática, a importância da redução da Selic e como ela deve continuar nessa trajetória. Não se trata apenas de uma experiência empírica ou do ponto de vista estritamente do comércio, mas são os dados oficiais que demonstram de forma clara essa tendência de melhora na economia com uma Selic mais baixa e, portanto, com um crédito mais barato.

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